Um grupo de profissionais pede que diretrizes alimentares enfatizem mais o açúcar que o sal no combate à hipertensão.
Os programas alimentares voltados para reduzir a
pressão arterial costumam focar na redução do consumo do sal. Mais do que
cortar o sal, as pessoas deveriam tirar da mesa alimentos industrializados
enriquecidos com açúcar. Essa é a constatação de um estudo feito por médicos da Faculdade de
Medicina Albert Einstein e do Saint Luke’s Mid America Heart Institute, nos
Estados Unidos, e publicado nesta
quarta-feira no periódico Open Heart.
Opinião do especialista
Luiz BortolottoCardiologista, presidente do departamento de
hipertensão da Sociedade Brasileira de Cardiologia e diretor da unidade de
hipertensão do Instituto do Coração (Incor).
Existem
extensas evidências do papel do sal no desenvolvimento da hipertensão, assim
como dos benefícios de reduzir o sal para diminuir a pressão. Isso está consolidado,
apesar de criticado por alguns autores.
Quanto ao
açúcar, começam a surgir evidências de que o excesso de frutose pode causar
processos inflamatórios. Além disso, existe uma relação entre o consumo do
açúcar e a obesidade, que é ligada à hipertensão. Logo, há fundamento em dizer
que excesso de açúcar pode levar à hipertensão. O estudo que mais mostrou isso
foi o que relacionou refrigerantes com maior risco de hipertensão.
No
entanto, não há um estudo comparativo entre redução de sal e de açúcar e o
impacto na pressão, e também nenhuma pesquisa avaliou a queda da pressão
promovida pela redução do açúcar.
Doenças cardiovasculares, como o infarto e o
derrame, são a causa de morte número um no mundo. Um dos principais fatores de
risco para elas é a pressão arterial elevada, que atinge um em cada cinco brasileiros, de acordo com um
levantamento do IBGE divulgado na quarta-feira.
Para esse
grupo de médicos americanos, a queda na pressão arterial proporcionada pela
redução no consumo de sal é “relativamente pequena”, e há evidências de que
consumir de 3 a 6 gramas de sal por dia faz bem à saúde, e de que ingerir de
menos de 3 gramas é prejudicial ao organismo.
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No
artigo, eles dizem que a maioria do sal da dieta é obtido por meio de comidas
processadas, também ricas em açúcar. “O açúcar pode estar mais relacionado à
pressão arterial do que o sódio. Evidências científicas, estudos populacionais
e ensaios clínicos revelam que o açúcar, particularmente a frutose, é o
protagonista do desenvolvimento da hipertensão”, escreveram os autores.
Xarope de milho – Os médicos condenam especialmente o xarope de
milho, adoçante comum em sucos industrializados e refrigerantes. Eles afirmam
que uma ingestão diária de mais de 74 gramas de frutose está associada com um
risco 30% maior de ter pressão acima de 14 por 9, e 77% maior de ter pressão
superior a 16 por 10. Uma alimentação rica em frutose também está relacionada à
elevação do colesterol, altos índices de insulina e risco de síndrome
metabólica.
Os
autores enfatizam que o açúcar natural encontrado em frutas e vegetais não é
prejudicial à saúde. Ao contrário, comer frutas e vegetais certamente faz bem
ao organismo.
·
1. Ingerir pouco sal
"Diminuir o consumo de sal é a medida que causa maior impacto na redução
da pressão arterial", diz o cardiologista Luiz Bortolotto, presidente do
departamento de hipertensão da Sociedade Brasileira de Cardiologia e diretor da
unidade de hipertensão do Instituto do Coração (Incor), em São Paulo. A relação
entre o sódio e aumento da pressão é simples de entender: como o sal retém água
no organismo, ele eleva o volume de líquido que passa nos vasos —
automaticamente subindo a pressão. A recomendação é ingerir no máximo 5 gramas
de sal por dia — equivalente a 1 colher de chá rasa —, incluindo o dos
alimentos que já têm sódio em sua composição.
2. Praticar atividade física
Durante o exercício físico, principalmente os aeróbicos (como a corrida e
caminhada), os músculos do corpo relaxam pela ação da endorfina, um
neurotransmissor ligado à sensação de bem-estar. "A camada média do vaso
sanguíneo é muscular. Quando ela relaxa, a pressão dentro dela diminui",
afirma o cardiologista Miguel Moretti, do Hospital e Maternidade São Luiz
Anália Franco, em São Paulo. Ademais, o exercício condiciona o sistema
cardiovascular.
3.
Maneirar no consumo de bebida alcoólica
O consumo exagerado de bebidas alcoólicas, principalmente as destiladas, causa
alterações metabólicas que podem resultar no aparecimento da aterosclerose,
isto é, acúmulo de gordura na parede dos vasos. "Além disso, por ser
altamente calórico, o álcool contribui para a obesidade e, consequentemente,
para o sedentarismo. Esses dois fatores favorecem a hipertensão", diz
Miguel Moretti. O limite de ingestão de álcool recomendado é de 30 gramas por
dia para homens, equivalente a duas taças de vinho, e 15 gramas para mulheres.
4.
Não fumar
A nicotina destrói a camada interna do vaso sanguíneo, chamada de endotélio
vascular. "Substâncias presentes no cigarro provocam o estreitamento dos
vasos, o que leva a um aumento da pressão do sangue dentro das artérias",
diz Luiz Guilherme Velloso, cardiologista da Rede de Hospitais São Camilo de
São Paulo.
5.
Controlar o stress
O stress faz com que o corpo libere o cortisol, hormônio que estimula a
contração do vaso e, consequentemente, o aumento da pressão sanguínea. Praticar
atividade física e ter hábitos relaxantes pode ajudar a controlar o stress.
6.
Ter um peso saudável
O sobrepeso e a obesidade pode ser decorrentes de outros fatores que favorecem
a hipertensão, como sedentarismo, dieta rica em sal e alto consumo de bebida
alcoólica. "Pessoas acima do peso têm alterações no sistema nervoso
simpático e no endotélio, camada interna dos vasos. Esses fatores aumentam a
pressão", diz Luiz Bortolotto.
(VEJA.com/Thinkstock/Thinkstock)
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